
Filho de assentados, Caio da Fonseca
Silva viu na educação uma alternativa para transformar a sua vida e de
sua família. “Trabalhávamos com meu pai na agricultura, no Projeto de
Assentamento Quixaba. Meu irmão (que é formado em Direito, também pela
UERN) foi o primeiro da família a se ater para os estudos. Inspirado
nele, também decidi trilhar por esse caminho”, relata.
As dificuldades em seguir com os estudos
foram muitas, antes mesmo de ingressar na faculdade. Por muitas vezes,
ele percorreu de bicicleta 22 quilômetros do assentamento Quixaba até a
escola onde cursava o Ensino Médio para não perder aula. “Foi então, que
decidi vir para Mossoró. Vim morar na Casa do Estado de Mossoró, onde
fiquei por cinco anos”, afirma o discente.
Quando concluiu o Ensino Médio, Caio da
Fonseca não prestou vestibular de imediato. “Infelizmente, o ensino
público deixa muito a desejar e para se tornar competitivo para o curso
que eu desejava, tive que estudar por alguns anos para ter base para
passar. Estudava em média 16 horas por dia”, lembra Caio. Segundo ele,
como estudava bastante, conseguiu uma boa base em disciplinas como
química e física, e passou a dar aulas de monitoria em cursinhos da
cidade, e em troca, os proprietários dos cursinhos permitiam que ele
assistisse aulas em disciplinas que tinha mais dificuldades, como
português e redação. “Isso me ajudou muito”, diz.
Em 2010, passou em Medicina. Os seis
anos de graduação foram tão difíceis ou mais do que o período do Ensino
Médio. “Foi difícil, foi muito sofrido. Minha família tinha a maior boa
vontade, me incentivava, mas infelizmente, não tinham como me ajudar na
questão financeira. Por mais que a UERN seja uma instituição pública, se
manter no curso requer muitos gastos, com livros, material, xerox”,
declara. Ele lembra que muitos professores da Faculdade de Ciências e
Saúde o ajudaram, inclusive financeiramente.
“Como minha família é do assentamento
Quixaba, tinha que conseguir moradia aqui em Mossoró. A ideia era ir
para a Residência Universitária, mas mesmo na residência ficava pesado
para arcar com alimentação e o transporte para ir à Faculdade. Então,
uma pessoa da faculdade e pessoas de fora me ajudaram a pagar aluguel em
uma residência perto do curso e assim consegui levar. Sinceramente, em
algumas situações eu achava que não ir conseguir”, relata o estudante.
Hoje, prestes a receber o diploma em
Medicina, Caio da Fonseca Silva relembra com emoção toda sua trajetória.
“Ainda não caiu a ficha, acho que só vou acreditar quando tiver o
diploma em mãos. Não existem palavras para descrever a felicidade que eu
tenho, principalmente em ver a felicidade dos meus pais em ver mais um
filho formado”, diz o graduando. As suas metas agora são trabalhar para
estruturar a vida sua e de sua família, e até o final do próximo ano
prestar residência para neurocirurgia.